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Da utopía a realidade: INTERCAMPUS
Cooperação interuniversitaria e o MERCOSUL

Universidade Federal de Pelotas)

Da utopía a realidade: INTERCAMPUS

Prof. Antonio Cesar G. Borges (Reitor da Universidade Federal de Pelotas).

Entre os grandes problemas que afetam a sociedade neste final de século encontra-se o desemprego. Ele está presente nos países do primeiro mundo, na Europa unida e também se manifesta rapidamente na América e nos países do mundo em desenvolvimento. No Brasil e nos países que compõem o Mercosul.
As enormes transformações do mundo contemporâneo induzidas pelo advento da tecnologia e em especial da informática fizeram com que o conhecimento passasse a ser considerado como um fator emergente de riqueza, com repercussões também sobre a mão-de-obra habitual, que passa a ser substituída por aquelas pessoas que empregam a tecnologia e o conhecimento.
Neste novo cenário, as universidades passam a ter um papel de grande relevância, quer na necessidade de modificar seus programas de ensino, imprimindo maior velocidade em suas ações e resultados, quer na participação nas atividades que visam integrar os novos blocos formados por diferentes Estados, que transformaram as fronteiras geográficas em fronteiras virtuais e econômicas.
Neste contexto, é conveniente e salutar analisar a experiência desenvolvida por outros atores educacionais, como os europeus e dentre este destacam-se os espanhóis, através do Programa INTERCAMPUS.
A integração entre os povos se inicia muitas vezes através de interesses econ“micos e gradativamente modificam-se costumes e hábitos, visando a sua adequação à regionalização. A cultura, porém, é um fator de união de pessoas e deverá ser mantida através da elite, capaz de analisá-la e promovê-la. Daí a importância dos jovens na condução deste processo. A Espanha tem enviado à vários países do mundo estudantes que vivem a realidade das nações que visitam, trocam conhecimentos e ambas partes aprendem a respeitar seus costumes e peculiaridades culturais.
A participação efetiva de professores e alunos da Universidade Federal de Pelotas em universidades espanholas nos últimos anos tem trazido grandes benefícios a região do extremo sul do Rio Grande do Sul e do Brasil. Esta instituição de ensino superior situa-se geograficamente em posição de atuação direta na fronteira com o Uruguai, um dos países formadores do Mercosul. O excelente relacionamento de brasileiros e uruguaios nesta área é um importante instrumento de integração ao longo dos tempos e o idioma serve também como elemento facilitado, pois espanhol e português se aproximam nesta região. Certamente o programa INTERCAMPUS poderá trazer vantagens ainda maiores nas açoes de integração nessa região. E, retornando ao tema inicial deste breve artigo, as experiências e alternativas encontradas na União Européia e particularmente na Espanha, poderão dar valiosos subsidios para o desenvolvimento da região e para vencer o espectro do desemprego que ameaça atacar a todos nós no Mercosul de forma tão dramática.
A integração econômica e especialmente cultural entre os povos será então capaz de promover a paz e o progresso dos homens e sem dúvida alguma as ligações afetivas e universitárias entre os jovens da Espanha e do Brasil não apenas estreitarão ainda mais os vínculos iberoamericanos, mas sobretudo serão partícipes deste importante processo de transformação, permitindo que a utopia se torne realidade.


Cooperação interuniversitaria e o MERCOSUL

Prof. Eliezer Rizzo de Oliveira (Boletim do DIPI, da UFPel)

A cerca do Mercosul, convém apresentar proposições acauteladoras. Mais do que um processo de constituição de mercado, onde as mercadorias fluirão livremente sem os impostos correspondentes às fronteiras geográficas e políticas, o Mercosul deverá ser um processo de construção societária. Neste sentido, tão ou mais importantes serão os mecanismos de integração cultural, de intercâmbio crescente de mão-de-obra, de visitantes, de cooperação em diversos aspectos da vida humana e da administração pública. Convém lembrar também que o Mercosul acha-se na sua infância, completando 5 anos de existência no passado mês de maio.
As Universidades devem levar em conta estes dois aspectos: ter consciência tanto das potencialidades que se abrem com um conceito abrangente de integração regional, quanto das dificuldades determinadas pela tenra idade. Mas não estou seguro de que governos da Argentina , Brasil, Paraguai e Uruguai se orientem de fato pela convicção de que o Mercosul terá um identidade não apenas econ“mica, mas societária. Não ousarei sugerir-lhes medidas, quaisquer que sejam, mas tomarei a liberdade de apresentar às Universidades algumas idéias, talvez por demais singelas, sobre como a cooperação das Universidades poderá contribuir à própria construção do Mercosul.
1 - Que as Universidades das Regiões Fronteiriças concebam e desenvolvam projetos comuns. Penso que o Mercosul está a exigir -e exigirá ainda mais na medida em que se desenvolverem os mecanismos de integração- a formação de recursos humanos raramente produzidos pelas nossas Universidades. Por exemplo: é mais provável encontrarmos um Mestre ou Doutor especializado em comércio internacional do que um graduado, muito embora pareça evidente a necessidade social deste profissional, principalmente voltado ao Mercosul. Assim também com outros profissionais.
Que as Universidades das Regiões Fronteiriças passem a oferecer cursos, mediante o intercâmbio de professores e estudantes, e com o compromisso do reconhecimento dos diplomas assim obtidos. O mesmo valerá para outros aspectos, tais como a realização de pesquisas e de programas de extensão, a parceria com diversos setores públicos, etc.
2 - Que as Universidades das Regiões Fronteiriças influenciem positivamente os graus anteriores dos sistemas escolares, através de professores de português e espanhol, mas sobretudo através da construção de uma identidade educacional da Integração Regional.
3- Que as Universidades das Regiões Fronteiriças estabeleçam um sistema de parcerias favorável ao desenvolvimento do Mercosul. Penso especialmente em quatro tipos de parcerias:
* América Latina/Europa: já comentamos a existência de Programas destinados a promover a cooperação de Universidades européias e latino-americanas, que devam ser aproveitadas ao extremo.
* Cooperação intra-Mercosul: que as Universidades das regiões fronteiriças estejam abertas às Universidades que não são desta região, já que é da natureza do desenvolvimento institucional que assim procedam em busca do aprimoramento de sua capacidade;
* parcerias "par-a-par": na falta de um nome mais apropriado, penso num tipo de parceria mediante a qual uma Universidade externa à região fronteiriça participaria de projetos do Mercosul em associação com uma Universidade desta região.
* parcerias com o poder público: talvez isto até já esteja ocorrendo, mas os problemas da região poderiam ser adequadamente enfrentados através de uma especie de consórcio Universidades, Prefeituras, Governos estaduais (ou províncias) destinando a oferecer soluções a temas muito sensíveis, tais como a saúde, educação e meio-ambiente;
4 - Que as Universidades das Regiões Fronteiriças exerçam pressão sobre os governos nacionais para que sejam instituídos direitos e mecanismos que facilitem e estimulem o processo de integração regional no tocante ao ensino superior. Um exemplo gritante da ausência destes direitos é a ausência de fomento ao intercâmbio no nível da pós- graduação. Ou ainda, a falta de uma Política brasileira de atração de talentos universitários para realizarem seus mestrados e doutorados em nossas Universidades. Um sistema de quotas proporcionais às dos países e dos seus sistemas universitários poderia fundamentar a reciprocidade destas oportunidades.
5. Finalmente, que as Universidades das Regiões Fronteiriças continuem realizando seminários e conferências sobre a importância e a estrutura da cooperação internacionais das Universidades.


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