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* DESENVOLVIMENTO DE CULTIVARES DE SOJA PARA O BRASIL CENTRAL

Comunicação. UFV. / A Universidade Federal de Viçosa iniciou, em 1963, em convênio com a Universidade de Purdue, USA, um programa de melhoramento da soja, com a introdução de linhagem e variedades, principalmente da região sul dos Estados Unidos.
Em 1968, iniciou-se uma série de hibridaçžes de linhagens e variedades, introduzidas com cultivares adaptados, principalmente, para a região de São Paulo, ao sul do Brasil. A sensibilidade da soja ao fotoperiodismo, plantas de dias curtos, dificultou a seleção de genótipos que atingissem altura adequada para a mecanização em Minas Gerais.
Foram realizadas, até 1994, cerca de 648 combinações híbridas, e as linhagens em desenvolvimento encontram-se nas gerações F1 a F15. Das linhagens introduzidas, resultou o lançamento das cultivares Mineira e Viçoja, em 1969.
Em 1995 e 1996, foram colocadas à disposição dos produtores de sementes de soja do Estado de Minas Gerais duas novas variedades, denominadas, respectivamente, "Capinópolis" (UFV-16) e "Minas Gerais" (UFV-17), sendo essas variedades resistentes a uma doença fúngica, denominada cancro da haste, que já causou prejuízos superiores a US$ 300 milhões, desde a sua constatação no Brasil na safra 1988/89.
Dentre os objetivos gerais do melhoramento de soja podem ser mencionados os seguintes:
-Produtividade de grãos: Sendo o grão de soja de maior importância econômica, as pesquisas visam atingir uma meta mínima de produtividade. Geralmente, os novos cultivares podem atingir, em condições experimentais, produtividades acima de 3.500 kg/ha.
-Adaptação à colheita mecanizada: A altura da planta deve ser adequada, ou seja, plantas ligeiramente acamadas, sem que as extremidades superiores inclinem até a posição horizontal ou toquem o solo. Após o estádio de 95% de vagem madura (R8), elas devem permanecer no campo por um período de três semanas, sem que ocorra a deiscência.
- Ciclo da cultura: A média do número de dias para maturação está entre 90 e 160 dias, dependendo do cultivar e da época de plantio. Os cultivares de menor ciclo são os preferidos para plantios em sucessão de culturas como o trigo, o sorgo e o girassol. Este fato, além de permitir melhor uso do solo, pode diminuir a infestação de doenças. Todavia, a produção de sementes é mais dificultada pela alta temperatura e umidade que podem ocorrer durante a maturação e colheita.
-Período de juvenilidade longo para indução floral: Os cultivares de período de juvenilidade longo podem apresentar o ciclo precoce, médio, semitardio ou tardio. Apresentaram a vantagem de permitir a semeadura o ano todo, desde que a temperatura e a distribuição de chuvas (ou irrigação) não sejam limitantes.
- Tolerância ao alumínio e ao baixo teor de fósforo: Os solos do cerrado do Brasil Central apresentam, na maioria das áreas, elevados teores de alumínio e baixo teor de fósforo; desta forma, procura-se desenvolver a produtividade dentro de limites econômicos.
- Retenção foliar ou haste verde: A principal causa da retenção foliar em lavoura de soja ocorre em razão do ataque de percevejos sugadores (Piezodorus guildini, Nezara viridula, Euchistus heros etc.). Todavia, a retenção foliar ou haste verde pode ser de caráter genético, fisiológico, ou por deficiência de potássio, falta de água durante a formação de vagens, excesso de chuvas durante a maturação das vagens e doenças como as provocadas por vírus que ocasionam macho-esterilidade ou por fungo, como Nematospora coryli. Em geral, quando as linhagens em fase de seleção apresentam retenção foliar ou haste verde são eliminadas, não sendo liberadas como cultivares. Muitos produtores de soja preferem cultivares de pubescência de cor marrom, por acreditarem que apresentam maturação uniforme e melhor qualidade de sementes.
- Resistência a doenças: Os programas de melhoramento de soja da Região Central do Brasil visam, principalmente, obter cultivares resistentes a Pústula bacteriana (Xanthomonas phaseoli p.v. glicynes); mancha olho-de- rã (Cercospora sojina Hara); nematóide de galhas (Meloidogyne javanica e Meloidogyne incognita); cancro da haste (Diaporthe phaseolorum f.sp.meridionalis); nematóide de cisto (Heterodera glycines).
- Resistência a pragas: Dentre as pragas que mais causam danos à semente de soja estão os percevejos, como Nezara viridula, Piezodorus guildini e Euchistus heros. O Instituto Agronômico de Campinas vem trabalhando com resistência genética, o que já resultou no lançamento do cultivar IAC-100, que apresenta boa tolerâ:ncia em condições de campo.
- Qualidade fisiológica da semente: Em razão das altas umidades e temperaturas que ocorrem durante a fase de maturação e colheita da soja, na Região Central do Brasil, geralmente a semente de soja apresenta baixo vigor, baixa germinação, além de alta incidência de fungos associados à semente. Nos anos em que as chuvas são de maior intensidade, nos meses de março e abril, é muito difícil obter sementes de alta qualidade. Vários são os programas de melhoramento que visam desenvolver cultivares com melhor qualidade fisiológica de sementes: todavia, os progressos têm sido ainda relativamente pequenos.
- Teor de óleo e proteína: Em média, cultivares comerciais apresentam cerca de 37,5 a 42,5% de proteína e cerca de 18,5 a 22,5% de óleo. A variabilidade de recursos genéticos para esses caráteres é relativamente ampla, podendo, em alguns casos, atingir cerca de 52% de proteína e 27% de óleo. Os trabalhos de melhoramento visam obter cultivares que, associados aos teores de óleo e proteína elevados, apresentam bom rendimento de grãos. As correlaçães negativas entre os teores de óleo, proteína e rendimento de grãos têm dificultado o progresso do melhoramento.
- Alimentação humana: Mais recentemente, as pesquisas visam desenvolver cultivares de melhor sabor, por intermédio da eliminação das enzimas lipoxigenases.
A qualidade da proteína também tem sido um dos objetivos do melhoramento. Uma das causas da dificuldade do aumento do uso da soja na alimentação humana, no Ocidente, além da diferença do hábito alimentar, é o sabor característico conhecido como "beany flavor" ou sabor de feijão cru. Este sabor está relacionado com três isozimas lipoxigenases, que atuam sobre os ácidos graxos polinsaturados dos grãos de soja. A eliminação genética dessas enzimas constitui um dos programas de melhoramento da qualidade da soja, desenvolvidos pela Universidade Federal de Viçosa. As linhagens encontram-se em fase de multiplicação e avaliação em condições de campo, indicando resultados bastantes promissores.
- Alimentação animal: Embora não haja um programa de melhoramento específico de soja na alimentação animal, para o Brasil Central, diversos trabalhos indicam que o cultivar a ser utilizado no consórcio milho e soja, para produção de silagem, deve apresentar o ciclo compatível com a época de corte do milho. Cultivares de ciclo médio e semitardio são, na maioria das vezes, os mais recomendados. No caso de plantio fora da época normal, são desejáveis os cultivares de período de juvenilidade longo e que produzem maiores quantidades de matéria seca.
PESQUISADORES: Tuneo Sediyama, José Luiz Lopes Gomes, Rita de Cássia Teixeira, Valterley Soares Rocha, Carlos Sigueyuki Sediyama, Múcio da Silva Reis, José Humberto Dutra, Neylson Eustáquio Arantes, Celso Hiderato Yamanaka, Messias Antônio Silveira Andrade, Sebastião Alípio de Brito e Francisco Mauro Alves Vilarinho.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
Departamento de Fitotecnia
Campus Universitário
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